Quatro anos depois, o kirchnerismo está de volta ao poder na Argentina.
Em meio a uma grave crise econômica que afeta a população e atingiu em cheio o atual líder do país, Mauricio Macri, a eleição deste domingo (27) coroou a estratégia da ex-presidente Cristina Kirchner, que surpreendeu ao decidir se candidatar a vice numa chapa liderada por Alberto Fernández.
Com 96,22% das urnas apuradas por meio do sistema rápido de contagem, o opositor havia conquistado 48,03% dos votos contra 40,44% de Macri.
Na Argentina, é necessário obter índice superior a 45% para ser eleito em primeiro turno —ou votação acima de 40% desde que com uma diferença de 10 pontos percentuais para o segundo colocado.
Ainda que não tenha sido necessária uma nova rodada, a margem entre Fernández e Macri surpreendeu, uma vez que as pesquisas chegaram a indicar 20% de distância, o que seria uma tremenda lavada.
Os kirchneristas também obtiveram outras vitórias, como a conquista do governo da Província de Buenos Aires, que sai das mãos da macrista María Eugenia Vidal —“Hoje Deus me deu um descanso para que eu recupere as minhas forças”— e foi para as do ex-ministro da Economia Axel Kicillof, com 52,18% dos votos até a publicação desta reportagem.
Em discurso conciliador na noite deste domingo, Macri reconheceu a derrota nas eleições e prometeu fazer uma transição organizada para o governo do próximo presidente, Alberto Fernández.
“Convidei Alberto Fernández para tomar café da manhã na Casa Rosada [sede do governo argentino] amanhã, para começar um período de transição ordenada”, afirmou. “A única coisa que importa é o futuro dos argentinos.” Quando parabenizou o adversário, ouviu vaias dos apoiadores.
A posição do candidato derrotado destoa da última eleição, em 2015, quando Cristina sequer foi à posse ao ser derrotada pelo atual presidente. À época, ele recebeu a faixa do presidente do Senado.
Com pouco mais de 40% dos votos, e mantendo a chefia de governo da cidade de Buenos Aires, o partido de Macri, o PRO, não sai completamente derrotado. Como o sistema eleitoral argentino é feito a partir de listas, a legenda deve manter uma boa presença no Congresso, além de sinalizar uma frente oposicionista forte.
Já na esquina das avenidas Corrientes e Dorrego, no bairro de Chacarita, em Buenos Aires, foi armado o local para celebrar a vitória kirchnerista.
No começo da noite, apoiadores chegavam em grupos. Um vendedor de rua vendia bandeiras com os dizeres “Macri, decime que se siente”, em alusão à música dos torcedores argentinos durante a Copa do Mundo do Brasil.
No palco, após a divulgação dos resultados, Cristina, com um vestido vermelho, pediu a Fernández que “exerça com responsabilidade o cargo que recebeu” e que “alivie a situação dramática em que o povo está”.
O público a interrompeu mais de uma vez, entoando canções kirchneristas. Pediu, ainda, que a população apoie o presidente eleito para enfrentar os projetos neoliberais. Em seguida, Fenandéz pegou o microfone e prometeu um governo “para todos os argentinos”.
Com inflação anual de 53,5%, um acordo com o Fundo Monetário Internacional para negociar e 35,4% da população abaixo da linha de pobreza, a economia é o maior desafio do presidente eleito.
Fernández disse que irá ao café com Macri e agradeceu o gesto do atual mandatário.
Com Folha de São Paulo