O presidente da Bolívia, Evo Morales, renunciou neste domingo (10/11), após as Forças Armadas “sugerirem” que ele deixasse o cargo. Morales governava o país desde janeiro de 2006.
“Houve um golpe cívico, político e policial. Meu pecado é ser indígena, líder sindical e plantador de coca”, disse o agora ex-presidente boliviano, ao comunicar sua decisão em um pronunciamento na televisão ao lado do seu então vice-presidente, Álvaro García Linera.
Morales justificou sua renúncia para evitar a continuação da violência no país após três semanas de confrontos entre seus apoiadores e críticos. “A vida não acaba aqui, a luta continua”, afirmou no final de seu discurso. O ex-presidente Carlos Mesa, que ficou em segundo nas eleições de outubro, comemorou o anúncio falando sobre um “fim da tirania”.
“À Bolívia, ao seu povo, aos jovens, às mulheres, ao heroísmo da resistência pacífica. Eu nunca esquecerei este dia único. O fim da tirania. Grato como boliviano por esta lição histórica. Viva a Bolívia!!!!!”, publicou Mesa em sua conta no Twitter.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) comentou a renúncia de Morales. “Denúncias de fraudes nas eleições culminaram na renúncia do presidente Evo Morales. A lição que fica para nós é a necessidade, em nome da democracia e transparência, contagem de votos que possam ser auditados. O VOTO IMPRESSO é sinal de clareza para o Brasil!”, disse.
O ex-presidente Lula lamentou a saída de Morales do cargo. “Acabo de saber que houve um golpe de Estado na Bolívia e que o companheiro @evoespueblo foi obrigado a renunciar. É lamentável que a América Latina tenha uma elite econômica que não saiba conviver com a democracia e com a inclusão social dos mais pobres”, afirmou.
O presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, afirmou que um “golpe de Estado se consumou” na Bolívia e classificou os fatos como uma “quebra institucional”. “Nós, defensores das instituições democráticas, repudiamos a violência desencadeada que impediu @evoespueblo de concluir seu mandato presidencial e alterou o curso do processo eleitoral”, disse ele.
“Vamos defender fortemente a democracia em toda a América Latina. Após esse colapso institucional, a Bolívia deve retornar o mais rápido possível ao caminho da democracia através do voto popular.”
Os governos de Cuba e da Venezuela, que já haviam manifestado seu apoio a Morales, também consideraram estes acontecimentos um “golpe”. O presidente cubano Miguel Diaz-Canel disse ter ocorrido um ato “violento e covarde” contra a democracia, enquanto o líder venezuelano Nicolas Maduro afirmou: “Condenamos categoricamente o golpe realizado contra nosso irmão”.
Forças Armadas haviam ‘sugerido’ renúncia a Morales
Pouco antes de Morales renunciar, as Forças Armadas haviam pedido que Morales abrisse mão de seu mandato para permitir a pacificação e manutenção da estabilidade do país.
O comandante das Forças Armadas da Bolívia, general Williams Kaliman, divulgou um comunicado em que falou que a saída de Morales seria importante para resolver o impasse na crise política em que se encontra o país desde as controversas eleições presidenciais, em 20 de outubro.
Segundo o comunicado, o pedido foi feito a Morales levando em consideração “a escalada de conflitos que o país atravessa”, em nome da “vida e da segurança da população” e para garantir o “império da condição política do Estado, de acordo com Artigo 20 da Lei Orgânica das Forças Armadas e após análise da situação interna de conflito”.
Por Paraíba Master com BBC