O empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade, proprietário do grupo Caoa – que teve origem em Campina Grande -, é destaque na edição desta terça-feira do jornal Valor Econômico, de São Paulo.
Ele diz sentir-se aliviado, em função de recente decisão do Superior Tribunal de Justiça que o livrou da ação penal que o apontara como um dos suspeitos em esquema na compra de Medida Provisória para prorrogar incentivos fiscais para fábricas de veículos do Centro-Oeste.
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O STJ rejeitou recurso do Ministério Público Federal e reafirmou decisão judicial anterior, que, por falta de provas, havia determinado o trancamento da ação.
A decisão, que considera uma “notícia alvissareira”, lhe permite, por exemplo, diz o empresário, visitar um gerente de banco ou mesmo conversar com amigos sem constrangimentos.
O STJ destacou, na decisão, a “ausência de elementos suficientes” para embasar a denúncia que o MPF fez há quatro anos a partir de delações premiadas colhidas durante a Operação Zelotes, deflagrada pela Polícia Federal em março de 2015.
“Graças a Deus o assunto está morto”, diz Andrade ao jornal.
E por mais que os amigos não acreditassem no seu envolvimento num esquema ilícito dessa natureza, afirma, “de qualquer maneira a coisa sempre fica no ar”.
Dr. Carlos, como é conhecido na empresa, considera “um ônus violento” seu nome ter sido envolvido em delações que apontavam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negociou MPs favoráveis a montadoras em troca de dinheiro.
O Ministério Público fez a denúncia contra Andrade em setembro de 2017. Um ano depois, seu advogado, Emílio Catta Preta, impetrou pedido de “habeas corpus” no Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
Oito meses depois, o TRF-1 decidiu favoravelmente ao empresário. Mas, o Ministério Público recorreu da decisão ao STJ, que, por fim, em fevereiro deste ano, concluiu não haver “qualquer elemento” que demonstre a contratação de “tais serviços”, referindo-se à venda de MPs pelo governo do PT.
Durante esse tempo, Andrade teve que familiarizar-se com a palavra “zelotes”, que, do grego “zeloso seguidor”, remete aos que se opunham à dominação romana, especialmente na cobrança de impostos.
Isso não quer dizer que ele não trabalhou para que os incentivos fiscais oferecidos a montadoras instaladas no Centro-Oeste fossem prorrogados.
Esse movimento é, aliás, citado pelo STJ. Em sua decisão, o ministro Nefi Cordeiro, destaca que cartas enviadas ao governo solicitando a prorrogação de incentivos fiscais regionais “nada apresentariam de ilícito, revelando apenas, a princípio, legítimo interesse das empresas em terem renovado incentivos fiscais que já gozavam e estavam para expirar”.
Em novembro de 2009, o Congresso aprovou a MP 471, que prorrogou o benefício de impostos federais reduzidos para montadoras do Centro-Oeste.
Além de Caoa, o grupo MMC, que produz veículos da marca Mitsubishi também tem fábrica na região.
Mas os adiamentos dos incentivos regionais não pararam por aí. Em novembro de 2018, MP assinada pelo então presidente, Michel Temer esticou o benefício até 2025. “Sem os incentivos eu teria ido embora”, destaca Andrade.
Se ter o nome envolvido numa operação que investiga corrupção deixou Andrade desconfortável pelo lado pessoal, os negócios não sofreram qualquer abalo, garante o empresário.
Durante a investigação ele fechou parceria com a chinesa Chery para produzir veículos da marca chinesa no Brasil.
Uma parte dos veículos é produzida em Anápolis (GO), local da polêmica em torno dos incentivos, e outra numa fábrica em Jacareí, interior de São Paulo, onde os chineses já produziam antes de o grupo Caoa assumir a operação.
Em Goiás, a Caoa também fabrica veículos da coreana Hyundai.
A decisão favorável da Justiça dá, ainda, ao empresário, mais ânimo para planejar expansão dos negócios no país.
Andrade diz que está pronto para “duplicar ou até triplicar” a produção nas duas fábricas do grupo.
Para ele, o brasileiro perdeu o preconceito em relação aos carros chineses e outras marcas da China estariam até “pegando carona” no desempenho positivo das vendas do grupo, que investe fortemente em campanhas publicitárias.
No fim do ano passado, a Caoa anunciou investimentos de R$ 1,5 bilhão para expandir e produzir mais modelos na fábrica de Anápolis.
O grupo poderia estar em contato com o governo paulista para expandir a operação no Estado. Mas Andrade não confirma qualquer negociação.
O grupo também planeja aumentar o número de empregos nas duas fábricas.
Serão abertas 500 vagas este ano, o que representa aumento de 25% no quadro efetivo total.
Em meio às notícias de expansão, a Caoa voltou a aparecer como provável interessada em adquirir uma das fábricas que a Ford fechou recentemente – uma de carros em Camaçari (BA) e uma de motores em Taubaté (SP).
Andrade não confirma negociações com a Ford. Diz só que “continua aberto” a oportunidades de negócios que o ajudem a expandir a operação.
Recentemente o grupo entrou para o setor de locação de veículos e também de seguros.
“Eu tenho interesse em tudo o que for um bom negócio”, destaca Andrade.
“Enquanto outras montadoras tiram o pé do acelerador nós planejamos crescer”, diz.
Paraíba Master com jornal Valor Econômico