3 de maio de 2025
Abrir Player em Nova Janela

Escolas de João Pessoa apostam no teatro para ensinar e inspirar

 Escolas de João Pessoa apostam no teatro para ensinar e inspirar

Fotografia: Quel Valentim e arquivo

#Compartilhe

“O teatro me abriu portas e me fez refletir sobre muitas questões na vida. E eu quero usar ele como ferramenta para ser uma voz para quem precisa me ouvir, para quem quiser me ouvir, para as pessoas que se sentem invisíveis, que não conseguem se enxergar no futuro, porque nem sabem se vão ter um futuro”.

A fala de Yasmim Araújo da Silva, de 16 anos, mudou todo o roteiro desta reportagem. A pauta, ao menos inicialmente, era sobre o Dia Mundial do Teatro, que é nesta quinta-feira (27). De certa forma ainda é. A diferença é que Yasmim me revelou um caminho diferente para abordar o tema. Ela me fez conhecer a alma do teatro, a sua essência, o seu poder de inclusão e de transformação.

A adolescente de expressões livres e sonhos grandiosos é autista. E como ela mesma me ensinou hoje, não existe uma fileira de pessoas com autismo, como se fossem robôs criados para análise de especialistas. É que cada ser humano é único e é importante, cada qual à sua maneira. Pois, é nessa individualidade que se constrói a vida.

A parte triste é saber que a sociedade nem sempre pensa assim e, por muitas vezes, cria estereótipos (termo usado pela própria Yasmim) que levantam muros a separar os diferentes. E a pergunta que ficou na minha cabeça foi: e existe alguém que seja igual ao outro? A menina linda, dona de uma inteligência singular, me respondeu.

“A gente não deve mudar para se encaixar numa coisa só porque os outros acham que aquilo que é diferente é estranho, sendo que todos somos diferentes no geral. As pessoas pensam que autista é uma pessoa só, sendo que é um espectro e tem várias formas, e nós somos capazes. Tem médicos autistas, físicos, profissionais de várias áreas e inclusive no teatro”, enfatiza.

E é quando fala no teatro que ela mais se emociona. “É o lugar onde mais me sinto incluída. Fui para o ensino médio e senti a diferença. Algumas pessoas têm uma falta de empatia, uma ignorância. O teatro é uma coisa que transforma de dentro para fora. Sou outra pessoa agora. Recebi meu diagnóstico durante o processo do teatro, momento em que realmente precisava. Nós, pessoas neurodivergentes, precisamos ter reconhecimento e lugar de fala, principalmente as pessoas diagnosticadas tardiamente”, me ensinou Yasmim.

Teatro do encantamento – A garota de palavras firmes e certezas bem definidas sobre o futuro iniciou nas artes cênicas na Escola Municipal de Ensino Fundamental Padre Pedro Serrão, no bairro do Cristo Redentor. Yasmim não deixou o projeto só porque entrou no ensino médio. Isso, no entanto, só foi possível por conta da parceria entre os setores da educação municipal e estadual, que abraçaram o grupo de teatro Kairós, mantido na unidade educacional do município e dirigido pelo professor Flavinho Ramos.

“A gente tem uma parceria com a escola do Estado que fica aqui na frente, a Liliosa de Paiva Leite. Eles vão fazer ensino médio lá, mas permanecem aqui no teatro. Cem por cento dos meninos e meninas que participam do teatro do encantamento, quando acaba o 3º ano do ensino médio, continuam na Universidade Federal da Paraíba. O meu maior objetivo não é transformá-los em atores e atrizes, mas em seres humanos funcionais, acreditando que têm potencial. E que eles possam sonhar, mas principalmente realizar os sonhos”, idealiza o professor.

Paraíba Master com informações da Prefeitura João Pessoa

Relacionados