1 de julho de 2025
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MPF recomenda retirada do nome do general Lyra Tavares de unidade militar em João Pessoa

 MPF recomenda retirada do nome do general Lyra Tavares de unidade militar em João Pessoa

Foto: 1° Gpt E/Divulgação

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O Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao Exército Brasileiro a retirada do nome do general Aurélio de Lyra Tavares do 1º Grupamento de Engenharia, sediado em João Pessoa (PB). A unidade militar é citada por comissões da verdade como um local de repressão durante o regime militar brasileiro (1964–1985). A recomendação destaca que manter homenagens a figuras diretamente ligadas à ditadura contraria os princípios democráticos e o compromisso do Estado com a memória, a verdade e a reparação às vítimas.

De acordo com o portal do MPF, o órgão também orienta que o quartel estabeleça um espaço de memória e informação voltado à preservação da história e à promoção da educação em direitos humanos. A proposta integra ações da chamada Justiça de Transição, que prevê medidas para responsabilizar violações do passado autoritário, como reforma institucional e reparação simbólica.

Natural da Paraíba, Lyra Tavares foi uma das figuras centrais da ditadura militar. Comandou o IV Exército logo após o golpe de 1964, foi ministro do Exército entre 1967 e 1969 e integrou a junta militar que assumiu o governo após o afastamento de Costa e Silva. Nesse período, participou da promulgação de atos como o AI-5 e o AI-12, que intensificaram a repressão a opositores e declararam o país em “guerra revolucionária”.

O general também esteve envolvido na criação da nova Lei de Segurança Nacional da época (Decreto-Lei nº 898), que previa penas como banimento, prisão perpétua e até morte para opositores do regime. Ele é citado em documentos oficiais e obras como Liberdade Vigiada, que revela sua atuação como embaixador do Brasil na França (1970–1974), período em que colaborou com o monitoramento de exilados políticos brasileiros, mesmo sob o pretexto de proteção por parte do governo francês.

Apesar desse histórico, o nome do general foi atribuído ao 1º Grupamento de Engenharia em 1999. Relatórios da Comissão Estadual da Verdade da Paraíba e da Comissão Municipal da Verdade de João Pessoa apontam que o local funcionou como centro de vigilância e repressão durante o regime, inclusive com registros de prisões e torturas. Entre os casos citados está o da camponesa Elisabeth Teixeira, viúva de João Pedro Teixeira, líder das Ligas Camponesas assassinado em 1962.

Testemunhos de ex-presos políticos indicam que denúncias de tortura por parte de agentes da Polícia Federal foram relatadas a militares da unidade, sem que qualquer providência fosse tomada. Para as comissões, isso demonstra não apenas conivência, mas participação direta na estrutura repressiva do regime.

A recomendação do MPF alinha-se às diretrizes da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que defende a retirada de homenagens a agentes da repressão e a renomeação de ruas, prédios e instituições. Em João Pessoa, a Avenida General Aurélio de Lyra Tavares também foi citada como exemplo a ser revisto.

O MPF lembra ainda que o Brasil tem obrigações internacionais no combate à impunidade por crimes cometidos durante a ditadura, conforme decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos. O país já foi condenado em casos emblemáticos como a Guerrilha do Araguaia (2010) e Vladimir Herzog (2018), com o entendimento de que crimes como tortura e desaparecimento forçado são imprescritíveis.

Para o procurador da República José Godoy, responsável pela recomendação, o reconhecimento oficial das violações de direitos humanos é essencial para impedir que elas se repitam. “É assim que se constrói uma verdadeira cultura de responsabilidade”, afirmou.

Por Paraíba Master

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