10 de julho de 2025
Abrir Player em Nova Janela

Tarifa de 50% imposta pelos EUA sobre produtos brasileiros pode fechar mercado e afetar empregos, avaliam especialistas

 Tarifa de 50% imposta pelos EUA sobre produtos brasileiros pode fechar mercado e afetar empregos, avaliam especialistas

Tânia Rêgo/Agência Brasil

#Compartilhe

A decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil pode representar, na prática, um fechamento do mercado entre os dois países. A medida, anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump em carta enviada nesta quarta-feira (9) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entra em vigor a partir de 1º de agosto e preocupa especialistas em comércio exterior e relações internacionais.

Segundo reportagem da Agência Brasil, a imposição tarifária afetará diretamente setores industriais estratégicos e pode gerar impacto no nível de emprego, na entrada de dólares no país e até no preço de alimentos, especialmente os ligados ao agronegócio.

Atualmente, cerca de 15% das exportações brasileiras têm como destino os EUA, com destaque para produtos manufaturados e semimanufaturados. Para o professor Roberto Goulart Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), a medida pode gerar efeitos profundos na economia nacional. “Se isso se mantiver, nós vamos ter desemprego, queda de divisas e um retrocesso nas relações comerciais”, afirma.

Entre os principais produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos estão petróleo, minério de ferro, aço, máquinas, aeronaves e eletrônicos. Empresas como Embraer e Petrobras devem ser diretamente impactadas, segundo o professor Alexandre Pires, do Ibmec-SP. “Trata-se de encarecer o mercado mais relevante de todos, que é o norte-americano”, avalia.

No campo do agronegócio, itens como açúcar, café, carne e suco de laranja lideram a pauta de exportações brasileiras para os EUA. Com a restrição, especialistas preveem queda nos preços internos desses produtos, já que a oferta interna aumentará. “É comum os preços caírem em situações de fechamento de mercado, como embargos. E isso deve ocorrer com carne, café e suco de laranja”, explica Pires.

Para ele, a pressão das elites econômicas poderá acelerar uma tentativa de reversão das sanções. “O pior cenário seria a manutenção dessas tarifas por um período prolongado. Recuperar esses mercados depois pode ser muito mais difícil”, alerta.

Apesar de Trump alegar desequilíbrio comercial, dados mostram que o fluxo comercial entre Brasil e EUA gira em torno de US$ 80 bilhões anuais, com superávit de aproximadamente US$ 200 milhões para os norte-americanos.

Tensão geopolítica e pressão política

Especialistas também apontam motivações políticas por trás da decisão. A elevação das tarifas ocorre na mesma semana em que o Brasil sediou uma cúpula do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — evento que gerou críticas públicas entre Lula e Trump.

Para o professor Roberto Goulart, da UnB, a postura do ex-presidente norte-americano reflete um padrão de comportamento agressivo adotado em sua política externa. “Trata-se de uma chantagem comercial. O que Trump está fazendo é usar tarifas como instrumento de pressão, algo que tem feito com outros países, inclusive aliados históricos como Canadá, Japão e Coreia do Sul”, argumenta.

Segundo Alexandre Pires, a medida contra o Brasil foi mais severa do que as adotadas contra outros países, o que reforçaria o componente político da decisão. “Essas tarifas têm um efeito Brics, um efeito STF, um efeito redes sociais. Só por último, têm alguma razão comercial”, conclui.

Por Paraíba Master

Relacionados