Setores produtivos brasileiros reagem com apreensão a tarifa dos EUA e aguardam medidas do governo

Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Produtores brasileiros estão em estado de alerta diante da decisão dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre todas as exportações provenientes do Brasil, a partir de 1º de agosto. A medida, anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump na semana passada, já impacta diretamente setores como o de pescados, enquanto outras áreas aguardam definições do governo brasileiro.
Segundo informações da Agência Brasil, representantes de diversas entidades empresariais e do agronegócio participarão, nesta terça-feira (15), das primeiras reuniões do recém-criado Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais, coordenado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. O grupo tem como objetivo traçar estratégias para minimizar os danos causados pela nova política tarifária norte-americana.
Pescados já enfrentam perdas imediatas
O setor pesqueiro é um dos primeiros a sentir os efeitos da taxação. A Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca) informou que 58 contêineres, com cerca de 1.160 toneladas de pescado, tiveram os embarques cancelados por importadores dos EUA. Os produtos, que chegariam ao país após a vigência da nova tarifa, perderam seus compradores e precisarão retornar aos produtores brasileiros.
“Os embarques que seriam feitos agora chegariam em agosto. Pelo timing do translado dos contêineres, eles já chegariam sob essa nova tarifa. Então, os compradores de lá suspenderam as compras”, afirmou o diretor executivo da Abipesca, Jairo Gund, à Agência Brasil.
Gund destacou ainda que os EUA representam 70% do mercado externo de pescados brasileiros e 90% das exportações de tilápia. Segundo ele, os mais prejudicados são os pequenos produtores, especialmente comunidades que vivem da pesca artesanal, como os responsáveis pela captura de lagosta, um dos principais itens da pauta exportadora.
Citricultura e café acompanham com cautela
Na citricultura, ainda não há impacto direto nas exportações, mas o setor mantém vigilância. O presidente da Câmara Setorial da Citricultura de São Paulo e vice-presidente da Associação Brasileira de Citros de Mesa, Antonio Carlos Simonetti, disse que é preciso dar tempo ao governo para negociar uma solução. “Temos que ter cautela. Essa tarifa é para o dia 1º de agosto. Acho que uma boa conversa é muito melhor do que uma má discussão”, declarou à Agência Brasil.
O Brasil é o maior fornecedor de suco de laranja aos Estados Unidos, que consomem mais de 40% das exportações nacionais do produto.
Já o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) participa, desde segunda-feira (14), de uma série de reuniões com autoridades federais e estaduais, além de entidades do setor produtivo. A expectativa é apresentar, até quarta-feira (16), uma avaliação detalhada do impacto nas exportações do grão, que está entre os principais produtos da pauta brasileira — com o café torrado representando 4,7% das vendas externas.
Indústria pede ações firmes e diálogo diplomático
Em nota divulgada nesta segunda-feira (14), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) alertou que a taxação coloca em risco investimentos, contratos e a previsibilidade do ambiente de negócios entre os dois países.
“A medida afeta fábricas brasileiras e plantas nos EUA que dependem de insumos produzidos no Brasil. Aumenta o risco de retrocessos, ameaça a competitividade de ambos os lados e lança incertezas sobre planos de investimentos”, afirmou a entidade. A CNI também defende uma atuação diplomática equilibrada por parte do governo brasileiro, evitando a politização do tema.
Governo prepara resposta com base na nova lei
O governo federal pretende adotar contramedidas com base na Lei da Reciprocidade Econômica (Lei nº 15.122/25), sancionada em abril. A norma autoriza o Brasil a suspender concessões comerciais e adotar medidas como restrições às importações e suspensão de compromissos relacionados à propriedade intelectual, em resposta a ações unilaterais que prejudiquem a competitividade nacional.
O decreto que regulamenta a lei foi assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira (14) e deve ser publicado no Diário Oficial da União. A expectativa é que o texto estabeleça os critérios para respostas comerciais e oriente o trabalho do comitê interministerial.
A primeira reunião do grupo ocorrerá nesta terça-feira (15), às 10h, com representantes da indústria. À tarde, o encontro será com líderes do agronegócio.
Por Paraíba Master