Associação chefiada por ex-cabo do Exército, motorista e esteticista recebeu R$ 53,3 milhões em emendas para projeto gamer no DF

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Parlamentares do Distrito Federal destinaram R$ 53,3 milhões, entre 2023 e 2024, para a Associação Moriá, entidade responsável por um projeto que ensina crianças e adolescentes a jogar títulos como Free Fire, Valorant, League of Legends, Teamfight Tactics e eFootball.
Segundo dados levantados, a maior parte dos recursos — cerca de R$ 46 milhões — foi destinada especificamente para o programa de jogos on-line. Os parlamentares que mais contribuíram com emendas ao projeto foram:
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Deputado federal Fred Linhares (Republicanos): R$ 27,6 milhões;
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Senador Izalci Lucas (PL): R$ 15,5 milhões;
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Deputada federal Bia Kicis (PL): R$ 1,5 milhão;
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Deputado federal Julio Cesar (Republicanos): R$ 800 mil;
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Deputada distrital Paula Belmonte (Cidadania): R$ 500 mil.
A maior emenda de bancada, no valor de R$ 37,9 milhões, foi destinada ao Ministério do Esporte em dezembro de 2024. O recurso foi classificado como de custeio, ou seja, para despesas operacionais como salários e aluguéis — não para aquisição de bens permanentes.
Diretoria sem formação técnica
A Associação Moriá, que recebeu um total de R$ 74 milhões em emendas nos últimos dois anos, é comandada por uma diretoria sem formação técnica específica para os projetos executados. O presidente da entidade é Gustavo Henrique Fonseca de Deus, ex-cabo do Exército. O diretor financeiro e administrativo é seu irmão, José Vitor da Fonseca de Deus, que atua como motorista. A diretora operacional é Thais Pinheiro Freitas, esteticista residente em Posse (GO).
A secretária é uma técnica em enfermagem, Danielle Bezerra da Silva. O conselho da entidade conta com uma pedagoga, uma enfermeira e outra técnica de enfermagem. Segundo o portal Metrópoles, em visitas realizadas pela imprensa nos dias 11 e 14 de julho, a sede da associação — uma sala de 32m² no Setor de Rádio e TV Norte, em Brasília — estava vazia e sem qualquer sinal de operação. A administração do prédio confirmou que o local pertence a uma pessoa física, e não à entidade.
Em nota, a Associação Moriá alegou que está em processo de mudança de sede para o Setor de Autarquias Sul, embora ainda conste o endereço antigo nos cadastros oficiais.
O outro lado
O Ministério do Esporte afirmou que o projeto não é de iniciativa da pasta, mas sim fruto de emenda impositiva da bancada do DF, cuja liberação é obrigatória. A pasta declarou que o termo de fomento foi empenhado ainda em 2022, no governo anterior, e que nenhum recurso foi efetivamente repassado até o momento, pois o projeto se encontra em fase de prestação de contas.
“Importante esclarecer também que o ministério não faz gestão quanto à escolha das entidades, nem quanto à sua força de trabalho”, destacou a nota oficial.
Posicionamentos dos parlamentares
O deputado Fred Linhares afirmou que sua atuação se limitou à indicação de recursos ao ministério, cabendo ao governo federal analisar e aprovar o projeto. Segundo ele, a proposta apresenta impacto social relevante, voltada à formação de jovens para o mercado de trabalho nas áreas de tecnologia e inovação.
O senador Izalci Lucas destacou que o projeto, batizado de Jedis-DF, é executado em parceria com o Instituto Federal de Brasília (IFB) e o Sesc, e que cabe ao Ministério do Esporte a responsabilidade pela análise e execução.
A deputada Bia Kicis declarou que a emenda foi aprovada de forma coletiva pela bancada do DF, e destacou o mérito da proposta, voltada à qualificação de jovens em áreas digitais. Segundo ela, a entidade estava formalmente habilitada à época.
A deputada distrital Paula Belmonte afirmou que os recursos foram destinados com base em proposta apresentada por um educador conhecido da rede pública do DF, com foco em crianças, adolescentes e pessoas com deficiência. Ela informou que visitou uma das ações do projeto em Ceilândia e que aguarda a análise técnica da prestação de contas.
O deputado Julio Cesar Ribeiro ressaltou que a destinação dos recursos seguiu os trâmites legais e que a avaliação da entidade cabe exclusivamente ao ministério responsável, com base na viabilidade e impacto social do projeto.
Por Paraíba Master