Lula reafirma ao New York Times que Brasil manterá soberania em negociações com os EUA e não entrará em Guerra Fria com a China

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A dois dias da entrada em vigor das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil não aceitará pressões externas e manterá sua soberania nas negociações comerciais. A declaração foi dada em entrevista ao jornal norte-americano The New York Times e repercutida pelo portal Agência Brasil nesta quarta-feira (30).
Durante a conversa com o jornalista Jack Nicas, Lula criticou a tentativa do presidente americano, Donald Trump, de vincular questões comerciais a temas políticos. Segundo o presidente brasileiro, os dois países devem dialogar com respeito mútuo.
“Em nenhum momento o Brasil negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande. O Brasil negociará como um país soberano”, declarou Lula. “Precisamos sempre encontrar um meio-termo. Isso não se consegue estufando o peito e gritando, nem abaixando a cabeça e dizendo ‘amém’ a tudo o que os EUA desejam”, completou.
Relações comerciais x julgamento de Bolsonaro
Lula também reagiu à possibilidade de as novas tarifas terem sido motivadas por fatores políticos, como o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de articular uma tentativa de golpe de Estado após perder as eleições de 2022.
“Acho que a causa não merece isso. O Brasil tem uma Constituição, e o ex-presidente está sendo julgado com pleno direito de defesa”, afirmou Lula ao New York Times.
O presidente reiterou que não se pode misturar interesses comerciais com disputas políticas e disse estar aberto ao diálogo com os Estados Unidos. Segundo ele, o governo brasileiro tentou manter canais abertos, mas não obteve retorno.
“Designei meu vice-presidente, meu ministro da Agricultura, meu ministro da Economia, para conversar com seus pares em Washington. Até agora, não foi possível”, revelou.
Lula também relatou que, apesar de dez reuniões realizadas com o Departamento de Comércio dos EUA, a única resposta concreta do governo norte-americano foi o anúncio das tarifas, publicado no site de Donald Trump.
Alinhamento com a China
Na entrevista, Lula foi categórico ao afirmar que o Brasil não participará de uma nova Guerra Fria, especialmente entre Estados Unidos e China.
“Temos uma relação comercial extraordinária com a China. Se os Estados Unidos e a China quiserem uma Guerra Fria, não aceitaremos. Não tenho preferência. Tenho interesse em vender para quem quiser comprar de mim, para quem pagar mais”, afirmou.
O presidente defendeu o comércio multilateral e disse que o Brasil continuará buscando novos mercados caso as tarifas americanas sejam mantidas.
A posição brasileira foi reforçada pela China no início da semana. Em nota oficial, o governo chinês disse estar pronto para trabalhar ao lado do Brasil em defesa de um sistema de comércio justo, centrado na Organização Mundial do Comércio (OMC), e criticou as medidas tarifárias adotadas pelos Estados Unidos.
Por Paraíba Master