Open finance completa cinco anos e transforma o mercado de pagamentos e crédito no Brasil

O Pix por aproximação, lançado em fevereiro, tornou possível pagar um café apenas aproximando o celular da maquininha, sem a necessidade de abrir o aplicativo do banco. Essa facilidade só foi possível graças ao open finance, sistema que completou cinco anos na semana passada e que permite o compartilhamento seguro de dados entre instituições financeiras, com autorização do usuário e amparo da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Mais presente no dia a dia do consumidor do que se imagina, o open finance foi fundamental para a criação do Pix automático, lançado em junho. Essa modalidade promete substituir o boleto bancário, permitindo cobranças periódicas com autorização única do cliente no aplicativo do banco.

Outra aplicação comum é a consulta integrada de saldos e extratos de contas em diferentes instituições financeiras numa única tela, além da oferta de crédito com juros mais baixos para bons pagadores. O sistema tem contribuído para aumentar a taxa de aprovação de crédito em até 30%. Desde abril de 2023, o compartilhamento de dados também abrange investimentos, câmbio, seguros, previdência privada, capitalização e credenciamento.

Desafios para expansão

Apesar dos avanços, a Associação dos Iniciadores de Transação de Pagamento (Init) aponta dois principais desafios para a expansão do open finance. O primeiro é elevar a taxa de sucesso nas transações, que atualmente varia entre 50% e 60%, para níveis próximos a 99,5%, semelhantes aos cartões de crédito e débito. O diretor executivo da Init, Gustavo Lino, destaca que, apesar das falhas, o sistema apresenta maior segurança do que os pagamentos com cartões, com índices mínimos de fraudes.

Ele cita o Pix por aproximação como exemplo: o cliente pode conferir o valor na tela do celular antes de aproximar o aparelho, enquanto nos cartões por aproximação o valor é exibido somente na maquininha.

As iniciadoras de pagamentos, autorizadas pelo Banco Central, são responsáveis por viabilizar essas transações, facilitando a comunicação entre bancos e usuários sem a necessidade de acessar diretamente o app bancário.

Adesão limitada das empresas

Outro desafio identificado pela Associação Open Finance Brasil (AOF) é a baixa adesão das pessoas jurídicas ao sistema. Em 2024, foram registrados mais de 40 milhões de consentimentos de pessoas físicas como receptoras e transmissores de dados, enquanto para empresas o número não chega a meio milhão.

Jonatas Giovinazzo, diretor-presidente da Init, atribui essa baixa participação a questões burocráticas e tecnológicas. Muitas empresas possuem dezenas ou centenas de contas bancárias e múltiplas maquininhas, dificultando o processo de integração do open finance com a contabilidade empresarial. Além disso, há dúvidas sobre o momento correto de lançamento das transações em extratos e sobre quem deve conceder os consentimentos, se funcionários ou sócios.

Novas soluções e futuro

Durante reunião com o Banco Central para comemorar os cinco anos do open finance, a Init discutiu melhorias no sistema, como o processamento de Pix em lotes para empresas médias e grandes. Atualmente, transações em grande volume podem ser travadas por questões de segurança, e o processamento agrupado facilitaria esse fluxo.

Apesar dos obstáculos, Gustavo Lino ressalta que o open finance traz benefícios para pequenas e médias empresas, que ganham mais facilidade no acesso ao crédito e maior poder de negociação junto aos bancos. Segundo ele, o futuro do sistema estará centrado nas pessoas jurídicas, que movimentam recursos muito superiores aos das pessoas físicas.

A próxima grande novidade prevista pelo Banco Central é o lançamento da portabilidade de crédito via open finance em fevereiro de 2026. Isso permitirá que clientes transfiram seus contratos de crédito entre bancos de forma mais rápida e simples, incluindo o crédito consignado, cujo processo atualmente é restrito a canais específicos. A expectativa é que a portabilidade passe a ser realizada fora das plataformas tradicionais, ampliando o acesso e a conveniência para os consumidores.

Por Paraíba Master