Defesa de Bolsonaro nega envolvimento em trama golpista e contesta provas apresentadas pela PGR

Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Durante o segundo dia de julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro negou qualquer ligação dele com a tentativa de golpe de Estado investigada pela Polícia Federal. O advogado Celso Vilardi afirmou que “não há uma única prova” que comprove a participação do ex-chefe do Executivo em atos para desestabilizar o Estado Democrático de Direito.
Vilardi argumentou que Bolsonaro foi “arrastado” para o centro da investigação com base em “elementos frágeis”, como a delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid e uma minuta de golpe apreendida no celular do militar. Segundo o advogado, esses documentos seriam os únicos pontos que sustentam a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
“O que existe é uma minuta intitulada ‘Punhal Verde e Amarelo’, uma planilha da chamada Operação Luneta e, por fim, o trágico episódio do 8 de janeiro. Mas não há qualquer evidência de que Bolsonaro tenha participado ou sequer sabido dessas ações”, disse Vilardi ao STF. “Nem mesmo o delator — que, ao nosso ver, apresentou versões contraditórias — conseguiu apontar diretamente a responsabilidade do presidente nesses fatos.”
A defesa também colocou em xeque a credibilidade de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, afirmando que ele teria mudado de versão diversas vezes e que isso seria motivo suficiente para anular sua colaboração premiada.
Julgamento no STF
O julgamento, que teve início na segunda-feira (2), está sendo conduzido pela Primeira Turma do Supremo e envolve Bolsonaro e outros sete aliados acusados de integrar o núcleo central da suposta articulação golpista.
A denúncia foi apresentada em fevereiro pela PGR, que acusa 34 pessoas, incluindo Bolsonaro, de crimes como tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, sustenta que o ex-presidente e seu ex-ministro da Defesa, general Braga Netto, atuaram como líderes na elaboração de um plano para subverter a ordem democrática.
No primeiro dia do julgamento, Gonet afirmou que há um “conjunto robusto de provas” que apontam a atuação de Bolsonaro na tentativa de ruptura institucional. Entre os elementos citados, estão documentos, depoimentos, vídeos de reuniões e discursos públicos do ex-presidente — incluindo sua fala em 7 de setembro de 2021, na qual afirmou que só deixaria o poder “preso, morto ou com vitória”.
“O que está em jogo aqui não é apenas a responsabilização de indivíduos, mas a defesa do regime democrático. Os fatos são públicos, os danos às instituições foram reais, e os planos apreendidos mostram a gravidade da conspiração”, afirmou Gonet.
O procurador também mencionou uma reunião ministerial de julho de 2021, na qual Bolsonaro teria orientado seus ministros a desacreditar o sistema eleitoral e propagar informações falsas sobre as urnas eletrônicas. Para Gonet, essas ações fazem parte de uma estratégia coordenada para criar instabilidade política e abrir caminho para uma ruptura institucional.
“O discurso autoritário não foi isolado ou impulsivo, mas refletia um projeto de poder baseado na deslegitimação das instituições”, declarou.
O julgamento segue na Primeira Turma do STF e ainda não há previsão de quando será concluído.
Por Paraíba Master