Obra em João Pessoa vira palco de ação educativa contra a violência doméstica

Cerca de mil trabalhadores da construção civil participaram, na quarta-feira (24), de uma ação educativa realizada em um canteiro de obras na praia de Jacarapé. A iniciativa teve como foco a conscientização sobre a violência contra a mulher, reforçando valores como respeito, igualdade de gênero e cultura de paz entre um público majoritariamente masculino.

A atividade integra a campanha Agosto Lilás e foi promovida por diversas instituições do sistema de Justiça e segurança pública, incluindo o Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público da Paraíba (MPPB), Ministério Público do Trabalho (MPT), Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB) e Polícia Civil, com apoio do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (Sintricom) e do Sinduscon.

Conscientização nos canteiros

Durante o evento, representantes das instituições abordaram os diferentes tipos de violência doméstica previstos na Lei Maria da Penha, esclareceram como funcionam os atendimentos nas delegacias especializadas e destacaram que medidas protetivas podem ser solicitadas mesmo sem registro policial formal.

Para a procuradora regional dos Direitos do Cidadão do MPF, Janaína Andrade, ações educativas como essa são essenciais para transformar comportamentos e combater a cultura machista ainda presente em muitos ambientes. Segundo ela, o engajamento masculino é crucial na prevenção. “Em 2025, a Paraíba já soma 23 feminicídios. Precisamos que os homens também se tornem multiplicadores de atitudes positivas”, alertou.

Multiplicadores de conhecimento

A delegada Paula Monalisa Pinho Cabral, da Polícia Civil, reforçou a importância de levar essas discussões aos espaços tradicionalmente masculinos. “Muitos acreditam que violência doméstica se resume à agressão física, mas existem outras formas tão graves quanto. Mostrar isso aqui é essencial”, explicou.

O procurador-chefe do MPT, Rogério Wanderley Sitônio, também destacou o papel da prevenção. “Só a repressão não basta. A educação é o caminho mais eficaz para evitar novas agressões e feminicídios”, pontuou.

Mudança de cultura

Para a promotora de Justiça Anne Emanuelle Malheiros, do MPPB, a participação ativa dos trabalhadores pode ajudar a construir uma sociedade mais segura. “Eles se tornam agentes de mudança, levando essa consciência para suas famílias, vizinhança e colegas de trabalho”, afirmou.

Já a promotora Dulcerita Alves, coordenadora da área de defesa das mulheres do MPPB, reforçou a importância de desconstruir atitudes naturalizadas. “É nesses ambientes, com maioria masculina, que precisamos falar. Muitas condutas tidas como normais podem configurar violência”, observou.

A juíza Graziela Queiroga também esteve presente e defendeu que levar informação é uma forma eficaz de prevenir agressões. “Estamos passando de obra em obra com essa mensagem. Informar é transformar”, afirmou.

Engajamento da categoria

O presidente do Sintricom, Francisco Demontier, avaliou positivamente a receptividade da categoria. “Esse tipo de conversa é fundamental para evitar que trabalhadores, por desconhecimento, se tornem agressores. É uma forma de proteger também suas famílias”, declarou.

Na mesma linha, a secretária-geral do sindicato, Jéssica de Andrade, destacou o impacto social da ação. “Nossa categoria é composta quase exclusivamente por homens. Mostrar que eles podem ser aliados no combate à violência é transformador”, disse.

Para o engenheiro civil e representante do Sinduscon, Daniel Cordeiro, o envolvimento das instituições fortalece o alcance da campanha. “É uma ação que precisa continuar. O impacto no dia a dia do canteiro é visível”, afirmou.

Resultados práticos

Ao final do evento, muitos trabalhadores relataram terem sido tocados pelas informações. O operário Daniel Silva Mariano afirmou que a palestra ajudou a refletir sobre a convivência familiar. Já Jaborandi José de Araújo, casado há mais de quatro décadas, declarou que a ação reforçou os valores de respeito que já pratica. “Foi uma confirmação de que estamos no caminho certo”, disse.

Com grande adesão e apoio institucional, a iniciativa reforça que a prevenção, aliada à informação, pode transformar comportamentos e ajudar a reduzir os índices de violência contra a mulher, especialmente quando chega a públicos pouco alcançados por campanhas tradicionais.

Por Paraíba Master