27 de setembro de 2025
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População civil é convocada para treinamentos militares na Venezuela em meio a escalada de tensão com os Estados Unidos

 População civil é convocada para treinamentos militares na Venezuela em meio a escalada de tensão com os Estados Unidos

Foto: Nicole Kolster / BBC News Mundo

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Em um cenário de crescente tensão entre Venezuela e Estados Unidos, civis venezuelanos estão sendo convocados para treinamentos militares como forma de resposta ao que o governo de Nicolás Maduro classifica como uma “guerra não declarada” por parte dos norte-americanos.

Moradores de bairros populares de Caracas, como 23 de Janeiro e Petare, estão entre os milhares de milicianos que, diante do chamado do governo, se dizem prontos para agir em defesa da pátria. Fardados, com botas e armamentos (muitos apenas para treinamento), homens e mulheres, inclusive idosos, têm se envolvido nas atividades que visam, segundo o governo, preparar a população para uma possível invasão.

Segundo informações do portal BBC News Brasil, em matéria assinada pela jornalista Nicole Koster para a BBC News Mundo, as ações envolvem pessoas de todas as idades, incluindo senhoras como Edith Perales, de 68 anos, e Francisco Ojeda, de 69, que afirmam estar prontos para defender sua pátria até com a própria vida.

Perales, que mora no bairro 23 de Janeiro, tradicional bastião do chavismo, afirma ter seu uniforme pronto para o caso de emergência. Ela integra a Milícia Nacional Bolivariana, criada por Hugo Chávez em 2009 e agora reativada como estratégia de defesa nacional. “Temos que sair para defender a pátria”, declarou.

A mobilização ocorre após os Estados Unidos posicionarem tropas navais no Caribe, próximo à costa venezuelana, em uma missão alegadamente voltada ao combate ao narcotráfico. Para Maduro, no entanto, a movimentação representa uma ameaça direta à soberania do país e uma tentativa de intimidação.

Com a justificativa de fortalecer a resistência, militares venezuelanos passaram a visitar comunidades para orientar a população sobre o uso de armas, táticas de sobrevivência e camuflagem. Em panfletos distribuídos durante os encontros, constam orientações sobre “métodos táticos de resistência” e instruções básicas de manuseio de armamentos.

A cena se repete: fuzis AK-103 sem munição, demonstrações rápidas e um discurso nacionalista. Para muitos, é a primeira vez segurando uma arma. Ainda assim, o sentimento é de prontidão. “Aqui até os gatos vão sair para atirar”, disse Francisco Ojeda durante um treinamento. Já Yarelis Jaimes, de 38 anos, dona de casa, disse estar nervosa, mas confiante: “Sei que sou capaz”.

Apesar do fervor em algumas áreas, outros moradores seguem com suas rotinas diárias, alheios ou indiferentes às instruções militares que ocorrem a poucos metros de onde fazem compras ou trabalham.

Especialistas apontam que o objetivo central do governo é mais simbólico do que estratégico. Criar uma percepção de que qualquer intervenção dos EUA enfrentaria resistência civil significativa seria uma maneira de elevar o custo político de uma ação militar.

Ainda segundo Maduro, a milícia e as reservas reúnem mais de 8 milhões de recrutas, número que, embora contestado por críticos, serve para fortalecer o discurso de mobilização popular.

Enquanto isso, o cenário segue tenso e imprevisível. A retórica de confronto continua forte, e os treinamentos civis seguem acontecendo sob o olhar atento de um governo que insiste em demonstrar que está pronto para defender seu território — custe o que custar.

Por Paraíba Master

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