10 de outubro de 2025
Abrir Player em Nova Janela

Estudo revela impacto da chikungunya em crianças e adolescentes na Bahia

 Estudo revela impacto da chikungunya em crianças e adolescentes na Bahia

Foto: Getty Images

#Compartilhe

Uma pesquisa conduzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que a infecção pelo vírus chikungunya pode provocar sintomas intensos e até deixar sequelas duradouras em crianças e adolescentes. O estudo foi realizado ao longo de quatro anos no município de Simões Filho, na região metropolitana de Salvador (BA), e acompanhou 348 participantes com idades entre 2 e 17 anos.

Os dados apontam que a maioria dos infectados desenvolveu sintomas da doença, contrariando a ideia de que a chikungunya afeta de forma mais branda o público infantil. Além disso, mesmo entre os jovens, houve registros de dores articulares crônicas que persistiram por meses após a fase aguda da infecção, prejudicando atividades do dia a dia.

A pesquisa foi conduzida durante o ensaio clínico de fase III da vacina Butantan-Dengue, e aproveitou a estrutura montada para também monitorar casos de infecção por chikungunya. A equipe coletou amostras de sangue dos participantes periodicamente e acompanhou sinais clínicos por meio de consultas médicas, especialmente em situações de febre ou outros sintomas.

Os testes laboratoriais incluíram RT-PCR (para detecção direta do vírus), exames sorológicos (como Elisa) e ensaios de neutralização viral, capazes de identificar e medir a resposta imunológica do organismo.

Coordenado pela pesquisadora Viviane Boaventura, da Fiocruz Bahia, o estudo avaliou não só a ocorrência de infecção, mas também a intensidade dos sintomas, a taxa de infecções assintomáticas e a duração da resposta imunológica.

Entre os 311 jovens que completaram o acompanhamento, 17% testaram positivo para o vírus chikungunya. Desses, 25 tiveram a infecção confirmada por RT-PCR e 28 por exames sorológicos. Apenas 9,4% dos casos foram assintomáticos, enquanto três adolescentes (cerca de 12% dos infectados) desenvolveram artralgia crônica — condição caracterizada por dores nas articulações de longa duração.

Outro dado relevante é que a taxa de soro conversão — ou seja, o desenvolvimento de anticorpos após a infecção — foi de 84% entre os casos positivos. Isso indica que a maioria dos infectados desenvolveu alguma resposta imunológica, embora nem todos tenham apresentado níveis detectáveis de proteção.

No início do estudo, 23 participantes já apresentavam anticorpos IgG contra o vírus, o que sugere infecções anteriores. Apesar de surtos locais registrados durante o período da pesquisa, apenas 20% do total de jovens acompanhados foi exposto ao vírus, o que, segundo os pesquisadores, aponta para uma vulnerabilidade considerável da população pediátrica.

O levantamento reforça a necessidade de estratégias mais eficazes de prevenção e monitoramento da chikungunya entre crianças e adolescentes, especialmente em áreas endêmicas, como o Nordeste brasileiro. A doença, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, ainda é um desafio de saúde pública devido ao seu potencial de causar complicações mesmo após a fase aguda.

Por Paraíba Master

Relacionados