Exposição em Paris denuncia exploração por trás da inteligência artificial e chega ao Brasil em novembro

Arnaud Robin/EPPDCSI/Divulgação
A exposição O Mundo Segundo a IA, em cartaz em Paris até setembro, propõe uma reflexão crítica sobre os impactos da inteligência artificial (IA) na sociedade, revelando os bastidores pouco visíveis por trás das tecnologias que fazem parte do cotidiano. A mostra será uma das atrações da Temporada França-Brasil e chegará ao Brasil em novembro, com exibição no Sesc Campinas (SP).
De acordo com a Agência Brasil, que visitou a exposição a convite do Instituto Francês, obras de artistas de diversas nacionalidades mostram como a IA está profundamente conectada a questões sociais, econômicas e ambientais, especialmente no que diz respeito à precarização do trabalho.
A instalação Meta Office: Atrás das telas da Amazon Mechanical Turks (2021–2025), dos artistas Lauritz Bohne (Alemanha), Lea Scherer (Áustria) e Edward Zammit (Malta), expõe a realidade dos chamados “microtrabalhos”, realizados por pessoas de países do Sul Global. São tarefas como identificar objetos em imagens ou associar palavras a rostos, atividades fundamentais para o treinamento de sistemas de IA, feitas sob condições exaustivas e baixa remuneração.
Outro destaque é Anatomia de um sistema de IA (2018), de Kate Crawford (Austrália) e Vladan Joler (Sérvia). A obra traça uma cartografia completa do Amazon Echo — dispositivo que abriga a assistente virtual Alexa — desde a extração dos minerais até o descarte do aparelho, destacando a extensa cadeia de trabalho e recursos naturais envolvidos em sua produção.
A exposição também aborda os vieses embutidos nos sistemas de IA. Em Faces do ImageNet (2021), o artista Trevor Paglen convida o público a experimentar um sistema que associa palavras a rostos humanos com base em um banco de dados utilizado no treinamento de algoritmos. O projeto revela como esses sistemas podem reproduzir preconceitos raciais, de gênero e sociais.
O curador-chefe da mostra, Antonio Somaini, alerta para o impacto ambiental das tecnologias digitais. “O consumo de energia ligado à IA já representa 3% do consumo global e tende a crescer exponencialmente”, afirmou à Agência Brasil.
Outra exposição que chegará ao Brasil no segundo semestre é O Novo Anormal, versão adaptada da mostra Urgência Climática, atualmente em cartaz em Paris. Com passagens confirmadas por Rio de Janeiro, Brasília e Belém, a proposta é discutir formas de enfrentamento da crise climática a partir de escolhas coletivas. Uma das obras interativas convida o público a montar uma refeição e, ao final, apresenta o impacto ambiental da escolha em pegadas de carbono.
A Temporada França-Brasil faz parte de um acordo firmado entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Emmanuel Macron, com o objetivo de reforçar os laços bilaterais por meio da cultura e da cooperação internacional. A programação no Brasil acontecerá de agosto a dezembro, passando por 15 cidades, com temas como democracia, diversidade, clima e transição ecológica.
Além das exposições, estão previstos dois fóruns de debate: o Nosso Futuro – França-Brasil, Diálogos com a África, em Salvador, com a presença dos dois presidentes, e o Fórum Juventude e Democracia, em Brasília, reunindo 80 jovens franceses e brasileiros para debater temas como desinformação, economia sustentável e igualdade de gênero.
Por Paraíba Master