4 de julho de 2025
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Butantan inicia testes em humanos da primeira vacina brasileira contra a gripe aviária H5N8

 Butantan inicia testes em humanos da primeira vacina brasileira contra a gripe aviária H5N8

Foto: reprodução

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O Instituto Butantan, vinculado à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, recebeu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os testes clínicos da primeira vacina brasileira contra a gripe aviária, do tipo H5N8. Os ensaios em humanos aguardam agora a aprovação final da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).

A vacina, chamada Influenza Monovalente A (H5N8), será testada inicialmente em adultos entre 18 e 59 anos, com aplicação de duas doses em um intervalo de 21 dias. Após essa etapa, os testes clínicos seguirão com pessoas com mais de 60 anos. Segundo o Instituto Butantan, os estudos pré-clínicos realizados em camundongos e coelhos demonstraram segurança e capacidade imunogênica — ou seja, a capacidade de gerar resposta imunológica.

O objetivo do Butantan é recrutar 700 voluntários para as fases 1 e 2 do estudo, que será realizado em cinco centros de pesquisa localizados nos estados de Pernambuco, Minas Gerais e São Paulo. De acordo com o Agência Brasil, a previsão é de que o acompanhamento clínico desses participantes se estenda até 2026, permitindo uma análise abrangente para posterior submissão do pedido de registro à Anvisa.

Risco de nova pandemia

De acordo com o diretor do Instituto Butantan, Esper Kllás, há uma grande variedade de vírus influenza aviários, e alguns deles podem sofrer mutações e se tornar mais agressivos, com potencial de causar doenças graves em humanos. O subtipo H5, por exemplo, já demonstrou a capacidade de infectar pessoas esporadicamente desde 1996.

“Nos últimos anos, o vírus vem se adaptando cada vez mais e conseguindo causar levas de mortes em mamíferos, primeiro aquáticos, agora também terrestres”, disse Kallás. “Está cada vez mais próximo de adquirir adaptações que permitiriam a transmissão entre humanos. Essa possibilidade preocupa toda a comunidade científica mundial.”

Desde o início de 2023, o Instituto Butantan vem trabalhando no desenvolvimento da vacina como forma de preparação para um possível cenário de surto ou pandemia. “Nosso objetivo é verificar se a vacina é bem tolerada, segura e se induz proteção, medida por exames de sangue após a vacinação”, completou o diretor.

Transmissão entre humanos é a principal preocupação

A diretora médica do Butantan, Fernanda Boulos, destacou que o maior risco associado à gripe aviária é a possibilidade de transmissão sustentada entre humanos, o que poderia deflagrar uma epidemia.

“O vírus da influenza aviária, até o momento, não se adaptou ao sistema respiratório humano. No entanto, por serem altamente mutagênicos, há risco de que isso ocorra”, afirmou.

A vacina em desenvolvimento é produzida com vírus inativado — ou seja, morto e incapaz de causar infecção. Com a aprovação ética, os cinco centros de pesquisa começarão o recrutamento dos participantes para avaliar a segurança e imunogenicidade da vacina nessa primeira etapa em humanos.

Letalidade e cenário global

A Anvisa alerta para o risco global das variantes H5N1, H5N8 e H7N9, conhecidas por seu alto potencial de letalidade e capacidade de mutação. De acordo com dados internacionais, desde 2021 essas cepas causaram a morte de aproximadamente 300 milhões de aves e afetaram 315 espécies silvestres em 79 países.

Em humanos, os casos ainda são raros, mas alarmantes. Entre 2003 e 2024, foram registrados 954 casos humanos em 24 países, com 464 mortes — uma taxa de letalidade de 48,6%, bem superior à da pandemia de covid-19, que ficou abaixo de 1%.

Situação no Brasil e medidas preventivas

Até o momento, não há registros de casos humanos de influenza aviária no Brasil, conforme informou o Ministério da Saúde. O risco de infecção é considerado baixo e não envolve o consumo de carne ou ovos bem cozidos, mas sim o contato direto com aves doentes ou com ambientes contaminados.

Neste ano, o país registrou um foco de gripe aviária em aves comerciais em uma granja em Montenegro, no Rio Grande do Sul. Porém, em 18 de junho, o Brasil voltou a ser considerado livre da influenza aviária após 28 dias sem novos casos, cumprindo os protocolos sanitários internacionais, conforme comunicado à Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA).

Para reforçar a preparação contra possíveis surtos, o Ministério da Saúde lançou, em dezembro de 2024, o Plano de Contingência Nacional do Setor Saúde para Influenza Aviária, que abrange vigilância integrada, diagnóstico laboratorial, assistência e comunicação. Além disso, foi publicado o Guia de Vigilância da Influenza Aviária em Humanos, com diretrizes para identificação de casos, manejo clínico e fluxo laboratorial.

Segundo a pasta, o Sistema Único de Saúde (SUS) está preparado para atuar em diferentes frentes, com capacidade laboratorial, estoque do antiviral oseltamivir e estrutura tecnológica para a produção de vacinas.

Por Paraíba Master

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