21 de setembro de 2025
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Amazônia perde 52 milhões de hectares de vegetação nativa em quatro décadas e se aproxima de ponto irreversível, alerta estudo

 Amazônia perde 52 milhões de hectares de vegetação nativa em quatro décadas e se aproxima de ponto irreversível, alerta estudo

Foto: reprodução

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Um levantamento inédito divulgado nesta segunda-feira (15) pelo MapBiomas lança um alerta sobre o futuro da maior floresta tropical do planeta. Segundo a análise da série histórica sobre o uso do solo na Amazônia, entre 1985 e 2024, a região perdeu 52 milhões de hectares de vegetação nativa – uma área equivalente ao território da França.

Essa devastação representa 13% de todo o território amazônico. Considerando também o que já havia sido desmatado antes de 1985, o total da vegetação nativa perdida chega a 18,7%. Deste total, 15,3% foram convertidos para usos humanos, como agropecuária, mineração e silvicultura.

A velocidade dessa transformação preocupa cientistas. “A Amazônia brasileira está se aproximando da faixa crítica entre 20% e 25% de desmatamento, considerada pela ciência como o ponto de não retorno. A partir daí, a floresta pode entrar em colapso e perder sua capacidade de regeneração”, afirma o pesquisador Bruno Ferreira, da equipe do MapBiomas.

Pecuária e agricultura lideram a conversão do solo

O avanço da ocupação humana no bioma se deu, principalmente, pela expansão da pecuária e da agricultura. As pastagens, que cobriam 12,3 milhões de hectares em 1985, ocupam agora 56,1 milhões de hectares da Amazônia. Já a área destinada à agricultura cresceu de forma ainda mais acelerada: saltou de 180 mil hectares para 7,9 milhões – um aumento de 44 vezes em quatro décadas.

Outro destaque do estudo é o crescimento da silvicultura (cultivo de espécies exóticas), que aumentou 110 vezes no período, passando de 3,2 mil hectares para 352 mil hectares. A mineração também avançou: de 26 mil hectares em 1985 para 444 mil em 2024.

Soja domina o cenário agrícola, mesmo após acordo de desmatamento

Dentro da agricultura, a soja se consolidou como a principal cultura na Amazônia. Em 2024, ela ocupa 5,9 milhões de hectares – o equivalente a 74,4% de toda a área agrícola do bioma.

A expansão ocorreu majoritariamente após a implementação da Moratória da Soja, em 2008 – um pacto firmado entre empresas e organizações para vetar a compra de soja cultivada em áreas desmatadas após essa data. Apesar disso, cerca de 4,3 milhões de hectares foram convertidos para lavoura de soja após 2008. Segundo os pesquisadores, 3,8 milhões desses hectares eram áreas já alteradas anteriormente, como pastagens. Entretanto, 769 mil hectares foram convertidos diretamente de floresta nativa para soja nesse período.

Rios secando e florestas encolhendo

Além da perda direta de vegetação, o estudo destaca um impacto indireto alarmante: o encolhimento das áreas alagadas. Entre 1985 e 2024, a Amazônia perdeu 2,6 milhões de hectares de superfícies de água, como igarapés, campos alagáveis e mangues. A maior parte dessa retração aconteceu na última década, marcada pelos anos mais secos já registrados na região.

“A floresta está ficando mais seca. Essa redução da umidade tem relação direta com o desmatamento, que afeta o ciclo de chuvas e agrava eventos extremos, como as longas secas que temos visto”, aponta Bruno Ferreira.

Regeneração ainda tímida

Apesar do cenário crítico, há indícios de recuperação. Em 2024, cerca de 6,9 milhões de hectares da vegetação amazônica estão em processo de regeneração, o que representa 2% da atual cobertura verde do bioma. Essas áreas haviam sido anteriormente desmatadas, mas não voltaram a ser convertidas para usos humanos.

Mesmo assim, o desmatamento continua a afetar majoritariamente a vegetação primária. No último ano, 88% das áreas desmatadas eram compostas por florestas nativas, enquanto apenas 12% envolviam vegetação secundária em regeneração.

Por Paraíba Master

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