Número de trabalhadores por aplicativo cresce 25% e já soma 1,7 milhão no Brasil, aponta IBGE

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Modalidade representa 1,9% da força de trabalho do país, com maioria atuando em transporte de passageiros e entregas; 71% estão na informalidade.
O número de brasileiros que têm nos aplicativos sua principal forma de trabalho cresceu 25,4% entre 2022 e 2024, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em dois anos, o total de trabalhadores “platonizados” – como define o instituto – saltou de 1,3 milhão para quase 1,7 milhão, o que representa um acréscimo de 335 mil pessoas.
A pesquisa, feita no terceiro trimestre de 2024, revela ainda que a participação desse grupo dentro da população ocupada também aumentou: passou de 1,5% em 2022 para 1,9% em 2024, considerando um universo de 88,5 milhões de pessoas com 14 anos ou mais que exercem alguma atividade remunerada no país.
Transporte domina entre os aplicativos
A pesquisa do IBGE considerou quatro tipos principais de plataformas digitais. A maioria dos trabalhadores atua em aplicativos de transporte particular de passageiros (como Uber e 99), que concentram 53,1% do total. Em seguida aparecem os apps de entrega de comida e produtos (29,3%), os de prestação de serviços gerais e profissionais (17,8%) e, por fim, os aplicativos de táxi (13,8%).
Esses serviços incluem desde motoristas e entregadores até profissionais como designers, tradutores e médicos que utilizam plataformas digitais para captar clientes ou realizar atendimentos.
Segundo o IBGE, 72,1% dos trabalhadores por aplicativo são classificados como operadores de máquinas e montadores — categoria que inclui motoristas e motociclistas.
Informalidade é regra
Um dos dados mais marcantes do estudo é o alto índice de informalidade entre os trabalhadores por aplicativo. Enquanto a média de informalidade no mercado de trabalho brasileiro é de 44,3%, entre os platonizados esse índice chega a 71,1%.
A maioria deles (86,1%) atua por conta própria, sem vínculo formal e muitas vezes sem registro de CNPJ. Apenas 3,2% têm carteira assinada, enquanto 3,9% são empregados sem registro formal. Cerca de 6,1% se declararam empregadores — caso, por exemplo, de donos de pequenos negócios que utilizam plataformas para vender produtos ou serviços.
Esse perfil é bem diferente da população ocupada, em geral, onde apenas 28,1% trabalham por conta própria. Mesmo assim, apenas 5,7% dos autônomos brasileiros usam aplicativos como canal principal de trabalho.
Perfil: homem, jovem e com ensino médio
O levantamento também traça um perfil sociodemográfico dos trabalhadores por aplicativo. A grande maioria é formada por homens (83,9%), enquanto as mulheres representam apenas 16,1%. No conjunto geral da população ocupada, os homens são 58,8%.
A faixa etária predominante vai dos 25 aos 39 anos (47,3%), seguida pelo grupo de 40 a 59 anos (36,2%). Em relação à escolaridade, 59,3% têm ensino médio completo ou ensino superior incompleto; apenas 16,6% concluíram o ensino superior.
Sudeste concentra mais da metade
Regionalmente, o Sudeste concentra 53,7% dos trabalhadores por app no país — a única região onde a participação dos platonizados (2,2%) supera a média nacional (1,9%). Nordeste (17,7%), Sul (12,1%), Centro-Oeste (9%) e Norte (7,5%) vêm na sequência.
Estudo é experimental e foca na principal ocupação
O levantamento é parte do módulo experimental da Pnad Contínua, realizado em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Ministério Público do Trabalho (MPT). A pesquisa considera apenas pessoas que têm nos aplicativos sua principal fonte de renda. Aqueles que realizam atividades em plataformas apenas como forma complementar — os chamados “bicos” — não foram incluídos.
Segundo o analista do IBGE Gustavo Fontes, a exclusão não compromete o resultado: “O número de pessoas com uma segunda atividade é relativamente pequeno, menos de 3% da população ocupada”, explica.
Fontes também destaca fatores que podem explicar o crescimento da categoria, como a flexibilidade na rotina e a possibilidade de ganhos maiores. “A liberdade para escolher dias, horários e locais de trabalho pode ser um atrativo relevante”, afirma.
Vínculo empregatício é tema de debate no STF
O avanço dos trabalhadores por aplicativo reacende o debate jurídico sobre a existência de vínculo empregatício entre plataformas e prestadores de serviço. A questão está em análise no Supremo Tribunal Federal (STF), com julgamento previsto para novembro, segundo o presidente da Corte, ministro Edson Fachin.
Enquanto sindicatos e entidades de trabalhadores denunciam precarização e falta de direitos trabalhistas, as empresas do setor, com apoio da Procuradoria-Geral da República (PGR), defendem o modelo como uma relação de trabalho autônoma e flexível.
Por Paraíba Master